terça-feira, 8 de maio de 2007

Narrador - Narrativa e QUARTA PAREDE

O narrador é a entidade que conta uma história. É uma das três entidades em uma história, sendo as outras o autor e o leitor/espectador. O leitor e o autor habitam o mundo real. É função do autor criar um mundo alternativo, com personagens e cenários e eventos que formem a história. É função do leitor entender e interpretar a história. Já o narrador existe no mundo da história (e apenas nele) e aparece de uma forma que o leitor possa compreendê-lo.
Em inglês, para delimitar essa distinção, o autor é referido por he, o leitor por she e o narrador por it.
O conceito de narrador irreal (em oposição ao autor) se tornou mais importante com o surgimento da novela no século XIX. Até então, o exercício acadêmico de teoria literária investigava apenas a poesia (incluindo poemas épicos como a Ilíada e dramas poéticos como os de Shakespeare). A maioria dos poemas não têm um narrador distinto do autor, mas as novelas, com seus mundos imersos na ficção, criaram um problema, especialmente quando o ponto de vista do narrador difere significativamente do ponto de vista do autor.
Uma boa história deve ter um narrador bem definido e consciente. Para este fim há diversas regras que governam o narrador. Esta entidade, com atribuições e limitação, não pode comunicar nada que não conheça, ou seja, só pode contar a história a partir do que vê. A isso se chama foco narrativo.

Questões de foco são as que dizem respeito às condições em que se dá o ato narrativo.

Narrador: é o suposto emissor do discurso narrativo, uma entidade imaginária que não deve ser confundida com o autor do discurso, embora seja comum este assumir o papel de narrador.

Narratário: é o hipotético receptor do discurso narrativo, entidade igualmente imaginária que não deve ser confundida com o receptor, embora seja comum o discurso destinar-se diretamente a ele.
Narrador e narratário são tipos especiais de personagens, mesmo quando não fazem parte da ação. Como personagens, podem ter história, aparência, caráter, ideologia e, no caso do narrador, principalmente estilo.
Há dois tipos de interação opostas do narrador com o universo narrativo. O primeiro é a condição de narrador-personagem.

Narrador personagem: está inserido no universo narrativo sobre o qual narra. Ele pode ser protagonista, personagem de pouca atuação ou apenas observador.

Narrador etéreo: não está inserido no universo narrativo: é como se vagasse no éter e as contingências do universo narrativo não o atingissem, nem ele tampouco pudesse interagir com este. Do mesmo modo pode-se falar em:

Narratário personagem: está inserido no universo ficcional e hipoteticamente tem história, aparência, caráter, etc.

Narratário etéreo: está à margem do universo narrativo e pode ser construído de diversas formas pelo autor: como platéia, grupo diferenciado, personagem específico ou como uma entidade abstraída de todos os atributos que não sejam o de receber a narrativa.

Transferência: ocorre quando o narrador toma para si as impressões, reações, idéias que são do personagem.
Narração primária e narrativa na narrativa: é comum narrativa em que um personagem se põe a narrar, via discurso direto. A diferença dessa narrativa para a primária é que a narração de personagem é uma ação da fábula. A narrativa primária é externa à fábula.

Quarta Parede

A quarta parede é uma parede imaginária situada na frente do palco do teatro, através da qual a plateia assiste passiva à acção do mundo encenado. A origem do termo é incerta, mas presume-se que o conceito tenha surgido no século XX, com a chegada do teatro realista.




Origem e significado

Apesar de ter surgido no teatro, onde os palcos, geralmente de três paredes, apresentam mais literalmente uma "quarta parede", o termo é usado em outros mídia, como cinema, televisão e literatura, geralmente para se referir à divisória entre a ficção e a audiência.
A quarta parede é parte da
suspensão de descrença entre o trabalho fictício e a plateia. A plateia normalmente aceita passivamente a presença de uma quarta parede sem pensar nela directamente, fazendo com que uma encenação seja tomada como um evento real a ser assistido. A presença de uma quarta parede é um dos elementos mais bem estabelecidos da ficção e levou alguns artistas a voltarem a sua atenção para ela como efeito dramático. Por exemplo, na peça The Fourth Wall de A.R. Gurney, quatro personagens lidam com a obsessão da dona de casa Peggy por uma parede em branco na sua casa, lentamente sendo desenvolvida numa série de clichés teatrais, enquanto toda a mobília e a acção em cena vão cada vez mais se dirigindo à suposta quarta parede.

Derrubando a quarta parede

O acto de derrubar a quarta parede é usado no cinema, no teatro, na televisão e na arte escrita, originado da teoria do teatro épico de Bertolt Brecht, que ele desenvolveu a partir (e, curisamente, para constrastar com) a teoria do drama de Konstantin Stanislavski. Refere-se a uma personagem dirigindo a sua atenção para a plateia, ou tomando conhecimento de que as personagens e acções não são reais. O efeito causado é que a plateia lembra-se de que está a ver ficção, e isso pode eliminar a supensão de descrença. Muitos artistas usaram esse efeito para incitar a plateia a ver a ficção sob outro ângulo e assisti-la de forma menos passiva. Bertolt Brecht estava ciente que derrubar a quarta parede iria encorajar a plateia a assistir a peça de forma mais critíca, o chamado efeito de alienação.
Derrubar a quarta parede de forma súbita é um recurso bastante usado para um efeito humorístico Non Sense, já que tal efeito é inesperado em ficções narrativas e afins. Alguns acreditam que derrubar a quarta parede causa um distanciamento da suspensão de descrença a ponto de constrastar com o humor de uma história. No entanto, quando usada de forma consistente ao longo da história, é geralmente incorporada ao estado passivo da plateia.
Essa exploração da familiaridade de uma plateia com as convenções da ficção é um elemento chave em muitos trabalhos definidos como pós-modernistas, que descontroem as regras pré-estabelecidas da ficção. A ficção que derruba ou directamente se refere à quarta parede muitas vezes também usa outros recursos pós-modernistas, como meta-linguagem.
O recurso é muito usado no teatro improvisado, aonde a plateia é convidada a interagir com os actores em certos pontos, como para escolher a resolução de um mistério. Nesse caso, os espectadores são tratados como testemunhas da acção em andamento, tornando-se "actores", atravessando a quarta parede.
A quarta parede também é usada como parte da narrativa, quando a personagem descobre que faz parte de uma ficção e 'derruba a quarta parede' para estabelecer um contacto com a audiência, em filmes como O Último Grande Herói (Last Action Hero. Em situações como esta, a 'quarta parede' que a personagem derruba permanece parte da narrativa em si e a parede entre a plateia real e a ficção permanece intacta. Há casos também em que a criatura encontra o criador, como no período em que Grant Morrison escrevia as histórias em quadrinhos do Homem Animal. Histórias como estas não derrubam efectivamente a quarta parede, e sim apenas referem-se a esse recurso.